Mas, olha, essa sou eu, uai!

segunda-feira, outubro 05, 2015

Todo mundo é diferente. Não existe essa que o mundo move para uniformização. O mundo não é uniforme, muito pelo contrário, o mundo é distorcido e cheio de buracos. Sabe a lua? Então, o mundo socialmente é como a lua, cheia de crateras e ondas.

Eu sou diferente de você e você é diferente de mim. Isso torna tudo muito mais colorido e bonito, não acha? Mas nem todo mundo concorda com a gente, justamente porque o mundo não é uniforme.

Nem me apresentei, que falta de educação. Já posso sentir a puxada de orelha da minha mãe, mas tudo bem, isso pode ser resolvido. Meu nome é Amanda, mas pode me chamar de Mandy, e isso que você está lendo é meu blog e minha história. — Tenho vinte anos, curso a faculdade de Ciências Humanas em Juiz de Fora, Minas Gerais, e sou uma mente bagunçada.

Essa é a primeira crônica, mas não significa que será o começo de tudo. Hoje a história é sobre quando me olhei no espelho e respondi a mim mesma: Mas, olha, essa sou eu, uai!

Há dois anos, dois mil e treze, conheci uma guriazinha muito bonita. Tinha cabelos longos, pele clara, olhos castanho-esverdeados e o sorriso mais luminoso de todo o planeta! Em agosto daquele ano fui abraça fortemente por ela. Aquele tipo de abraço que você sente suas células se mexendo, seu peito esquentando e as coisas em volta sumindo. Fora o abraço mais gostoso e mais feliz que já recebi.

O cheiro do perfume grudou no meu moletom e no meu colete jeans. Um cheiro doce de bala de frutas. Se hoje eu fechar os olhos e me concentrar bem consigo sentir o cheiro e a sensação daquele abraço. Aquele abraço que se encaixou certinho e me cobriu como um urso.

Enfim, meses depois, em outubro, me descobri perdidamente apaixonada por essa menina doce. Eu a seguia para todos os cantos e gravava na minha mente cada sorriso que dava. Reparava no modo em que andava, falava, mexia os braços, franzia as sobrancelhas, tudo.

Antes dela eu sentia um vazio. Sentia que existia algo de errado comigo. Ia dormir pedindo a Deus para que tirasse pensamentos nada bonitos da minha mente, que tirasse a imagem de meninas que eu havia esbarrado por aí e achado muito mais do que apenas bonitas. Vish, antes dessa guria, já tinha perdido as contas de quantas burradas fiz para afastar esse vazio de mim.

Antes dela eu havia feito de tudo para não ser diferente de ninguém, fazia de tudo para me sentir dentro do mundo “uniformizado”. — Eu saia para beber com amigos, para festas e ficava com qualquer menino que eu achasse que interessaria uma menina comum. Eu me entreguei a um desses meninos, me entreguei porque fiquei assustada por ter pensado em uma das minhas amigas de forma mais… Intima.

Me lembro como se fosse hoje, isso seria uma das últimas coisas que gostaria de lembrar com tantos detalhes.

Mas em dois mil e treze essa guria de sorriso iluminado apareceu e transformou todo esse vazio e estranheza em razão e entendimento. Ela me mostrou que estava tudo bem ser diferente, que o diferente também era bom, que o mundo era feito de diferenças. Mostrou que somos diversidade.

Em um dia qualquer, tedioso e comum — quando contei meio que aos berros para minha mãe adotiva que era gay —, me olhei no espelho depois de ler uma mensagem no celular e descobri que aquilo tudo era eu. Aquele jeitinho ali de moça e de menino, era eu. Não havia nada de errado ser uma princesa e gostar de outras princesas. Não havia nada de errado em ser diferente e não vestir o uniforme.

Foi na frente daquele espelho que disse a mim mesma de uma forma cômica, confesso, com uma leveza no coração que nunca havia sentido:

Mas, olha, essa sou eu, uai!

Não é minha ~ainda~, mas descreve exatamente
os meus pensamentos.

Esses você vai curtir!

2 Kiwizinhos dizem:

  1. Nossa uau! Eu adorei o seu texto, adorei a forma delicada e leve como você abordou um assunto complexo. De uma certa forma eu me vi no seu post e é muito bom quando nos identificamos, da aquela sensação de acolhimento.
    É fantástico quando encontramos pessoas que nos ajudam a ver o lado bom e singelo da vida, que nos ajudam a entender quem nós somos e ver o lado bom disso, mas que também estão dispostas a se descobrir no outro.
    É muito triste a falta de compreensão da sociedade quanto ao amor, independente de qualquer porém, e séria ótimo se todos respeitassem o próximo com base no respeito que desejam para si mesmo.

    http://leverissima.blogspot.com.br/?m=0

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    1. Obrigada, Letícia! Esse mundo é muito complicado mesmo, então é sempre bom olhar as coisas por um outra ângulo e perceber que tudo tem um lado bom!

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